terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Dias cinzentos - I




Estudar o passado, sempre foi a melhor forma de entender o presente e planejar o futuro. Não podemos julgar o presente sem olhar para trás, é de la que vem toda força que direciona os acontecimentos atuais e futuros. Um exemplo disso é a política.

Muitas águas passaram por debaixo da ponte antes dos acontecimentos que culminaram na Revolução de 1964. Águas turvas, lamacentas, em todas as esferas politico-social. Anos difícies, cinzento, que tivemos de enfrentar.

Na política havia uma generalização da imagem negativa dos políticos. Era de conhecimento público tudo o que se passava nos bastidores da política.
Parlamentares trocavam votos por facilidades ou concessões, disvirtuavam as eleições, legislavam em causa própria e tudo mais.

Tudo isso acontecia a olhos vistos e isso aumentava o repúdio dos eleitores aos representantes destes em qualquer que fosse a casa parlamentar da época.

E esse desencanto do povo, ficou evidente em uma eleição à Câmara Municipal de São Paulo, onde um animal, um rinoceronte para ser mais exato,chamado “ Cacareco”, tornou-se famoso por ter recebido a maioria dos votos sobre todos os candidatos que concorriam a uma vaga na Câmara . Superando os menos de 95.000 votos do partido que teve maior votação!

Esse comportamento, também se refletiria na eleição para presidente, onde um candidato, com um quepe da CMTC, e cujo símbolo de campanha era uma vassoura, inflamava a massa com seus discursos ponderosos, pelos palanques do país. Comia sanduiche de mortadela, nos bares, para impressionar.
Ganharia a eleição, com uma vitória esmagadora. E de que tanto quanto da maneira expressiva como vencera a eleição, renunciaria tão rapidamente o mandato para o qual fora eleito, motivado por “forças ocultas”, como dissera. O vice João Goulart, ou " Jango", como era conhecido assumiria a presidência.
Isso, desencadeou a insatisfação dos militares da época. Que temiam um avanço do comunismo no Brasil.

Apesar de todos esse acontecimentos, as coisas estavam melhorando para mim. Com a ajuda de um amigo consegui me empregar, coisa rara naqueles dias, só se conseguia, assim, com a ajuda de amigos.

Manhã fria, eu caminhava, em direção ao ponto de ônibus, todo agasalhado, encolhido para me aquecer melhor, a caminho de meu primeiro emprego. Ainda no ponto do ônibus, percebi que havia algo de diferente, um movimento acima do normal para aquela hora.

Pessoas andavam apressadas de um lado para o outro, muitos grupinhos conversavam e gesticulavam bastatnte, e eu não conseguia entender qual era o motivo de tanta agitação. Não só eu, os que estavam ao meu redor, também não estavam entendendo nada. Não tinha ouvido nada nos notíciarios, que justificasse tal compartamento.

Da janela do ônibus em movimento, em direção ao centro da cidade, pude observar pessoas, carregando sacos e sacos de alimentos para dentro de seus automóveis. Famílias inteiras com sacolas de supermercado, abarrotada de alimentos não perecíveis. Isso começou a me deixar preocupado. O que estaria acontecendo? Ou o que poderia acontecer ?

Eu só iria entender, tanto eu como a maioria das pessoas dentro do ônibus, que também estavam um pouco assustadas, quando este chegou ao centro, e teve de desviar seu caminho, pois havia um tanque de guerra bloqueando a sua passagem.
Muitos soldados do exército, estavam espalhados por todos cantos. Fiquei sabendo que ali, em pleno centro da cidade, havia um quartel do exército.

Chegando ao escritório, todos estavam reunidos e ai então me dei conta do que estava acontecendo. Fomos informados para que tomássemos o máximo de cuidado, porque tinham deposto o atual Presidente, e de que havia “estourado”, assim mesmo, foi esse termo que eu ouvi, a revolução. Era 31 de março de 1964.
Com a deposiçao do então presidente João Goulart, iniciou-se uma mudança radical com a participação ativa e efetiva dos militares, e os dias mais cinzentos da história do Brasil, estavam começando.

sábado, 3 de dezembro de 2011

O Julgamento

O prédio era imponente, estilo art nouveau...
Formas meramente funcionais,sem tradições,
um estilo , onde se destacavam curvas e bordões
que em Petrópolis, Buenos Aires , um ilustre morou

A princípio, essa aparência, tão bela, assustava
Mas, não se tinha por onde ir, a não ser obedecer...
Era o prédio do Tribunal não tinha para onde correr,
ordem de um juiz,era como de uma mãe, quando ralhava

Por que eu deveria estar indo ao Tribunal? Eu Nâo sabia
Na intimação que eu recebera, não dizia, não estava clara
Naquela época, não se questionava, somente obedecia..

sabendo que nada devia,querer provar era coisa rara
qualquer resmungo,um olhar torto seu prontuário sumia
ia para a lista dos que por ali, jamais passara!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O sem-teto


Madrugada fria, gelada , sombria, uma fina garoa persistente caía,
anunciando uma piora eminente, na queda da temperatura.
Tudo molhando, ensopando deixando alguns na desventura,
atordoados, descontentes, que a roupa do corpo não possuía.

Procuravam cada qual, um bom e sêco lugar para se aquecer
disputavam esses lugares, muitas vezes com unhas e dentes.
Semblantes visivelmente abatidos, tristes, tampouco contentes
com essa luta insólita, diáriamente, para de frio não morrer!

Mas uma, dessas bizarras personagens, conseguia sobressair.
Vestia-se com roupas, que outrora fora de alto padrão.
Separado dos demais, procurava um bom canto para dormir.

Forrava o chão, com papelão e número atrasado do Estadão,
uma boa dose de vodka Smirnoff, para o frio não sentir;
e como travesseiro usava o bom livro, Cem anos de Solidão!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O Boato

Do querer fazer e o propriamente dito
fato acontecer,
Cria-se uma enorme balbúrdia
que repudia
E o fato se faz morrer...

Em palavras bonitas a repúdia se inicia,
Sem saber de quem
Ou de onde vem, do púlpito talvez,
das zuadentas cantinas,
Com total rapidez!

O alcance dessa infâmia é incalculável!
Pode ser pequena, amena
ou até irreparável,
assim se confirma o fato.
Sem saber se o dito é dito, ou se o dito é um boato!

O estrago está feito,e a contenda também,
uns concordam com o fato
Os do contra não e alguns dizem amém.
E que diz a personagem em questão?
Fala, desconversa, e diz que ninguem tem razão!

Assim, quanto ao objeto que deu início ao fato,
Ou boato, o erário
Ninguem sabe, também ninguem viu,
Não concordam, não discordam, muito pelo contrário,
Dizem candidamente que o erário sumiu!

Frágil encanto

Carrego, como um fardo,
um indestrutível coração;
o horizonte tranquilo, de
uma paixão desvairada,
uma carne fraca, um
sonho forte
e numa das mãos, a solidão.

Dilacero os olhos no escuro,
o olhar aceso num
instante febril,
a calma descerrada,
num palmo de tempo
compridamente reduzido.

Perto, mais perto...
enxerga-me como um
ponto sem encontro,
um elo a mais,
um vento...
Tenha-me quieta,
ou antes, intensa
e não minta.

Pergunto-te: que vês?
Como não bastassem
as lágrimas de um outono
eterno,
carrego um fardo
como quem voa...

Texto de : Thereza Chritina Rocque da Motta

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Padaria Espiritual - II


Descobri muitas coisas interessantes, a partir de uma simples inscrição na contra capa de um livro.

Talvez, algum tempo atrás, demoraria muito para isso acontecer, descobrir qual o significado da pesquisa sobre o que foi ou o que era, ou o que é a Padaria Espiritual.

Para minha surpresa, e creio que para muitos também, saber que a Padaria Espiritual é uma agremiação literária surgida em Fortaleza no final do século XIX que reúne escritores, pintores e músicos.

Fundada por Antonio Sales (1868 - 1940) em 30 de maio de 1892, conta com a participação de 20 "padeiros", membros fixos do grupo que se reúne no "forno", nome dado a sua sede, sob a direção de um "padeiro-mor". Na própria denominação, que associa a imagem da padaria às letras numa época marcada pelo academicismo da literatura, é possível notar o traço transgressor que dá forma às manifestações públicas e privadas realizadas pelo grupo.

Integram a Padaria o primeiro "padeiro-mor", Jovino Guedes (1859 - 1905), Tibúrcio de Freitas (s.d. - 1918), Ulisses Bezerra (1865 - 1920), Carlos Vítor, José de Moura Cavalcante (1965 - 1928), Raimundo Teófilo de Moura, Álvaro Martins (1868 - 1906), Lopes Filho (1868 - 1900), Temístocles Machado (1874 - 1921), Sabino Batista (1868 - 1899), José Maria Brígido (1870 - s.d.), Henrique Jorge (1872 - 1928), Lívio Barreto (1870 - 1895), Luís Sá (1845 - 1898), Joaquim Vitoriano (s.d. - 1894), Gastão de Castro, Adolfo Caminha (1867 - 1897), José dos Santos e João Paiva, além do próprio Antonio Sales, o "primeiro forneiro". Cada um dos membros assina os textos, publicados no periódico do grupo O Pão, com um pseudônimo.

Chama a atenção, na produção da Padaria, a heterogeneidade dos textos dos membros, marcados, na poesia, tanto pelo Simbolismo quanto pelo Parnasianismo, ambos de inspiração portuguesa, diferentemente da influência francesa dessas escolas ao sul do país. Na prosa convivem um Romantismo tardio, o Realismo e o Naturalismo, por vezes orientados para o Regionalismo.

A Padaria Espiritual, movimento pioneiro no Ceará — terra de José de Alencar — e precursor das academias de letras em terras brasileiras. Movimento modernista, ainda hoje atual, com 40 anos de antecedência à Semana de Arte de 1922 tinha até um estatuto composto de 48 artigos, “amassado e assado na "Padaria Espiritual", aos 30 de Maio de 1892.” como diziam eles.

Tanto as atividades do grupo quanto O Pão tomam uma feição ligeiramente mais séria, mas ainda calcada no espírito de pilhéria, a partir da reorientação e da publicação do Retrospecto. O grupo e alguns de seus membros tem sua produção reconhecida em outras capitais, provocando admiração e repúdio, este, naturalmente, por sua posição anárquica, que, se não chega a ser abandonada, é suavizada. Nessa atmosfera fervilhante e paralelamente ao movimento da Padaria Espiritual, acontece a fundação da Academia Cearense de Letras, em 15 de agosto de 1896, quando, mais uma vez, os intelectuais locais valorizam-se com seu movimento de vanguarda, já que esta foi a primeira academia de letras do país, surgindo mesmo antes da própria Academia Brasileira de Letras.

O Pão volta a ser publicado em janeiro de 1895 e chega ao fim no número 36, em 31 de outubro de 1896. O grupo, por sua vez, se encerra em dezembro de 1898.

Em 1992, em comemoração ao centenário da Padaria Espiritual, outro grupo de escritores, artistas plásticos, músicos e amantes da arte em geral pôs a mão na massa e O Pão tornou a circular, como o seu ilustre antepassado, distribuindo os biscoitos finos da imaginação.

Tudo isso passaria despercebido por mim e por muitos, que desconhecia esse movimento literário tão importante para todos nós brasileiros, se não fosse a simples curiosidade de pesquisar uma escrita à lápis na contra capa de um livro raro!

Source:- cearacultural.com.br

domingo, 13 de novembro de 2011

The Piano


1) The Piano, I can hear it. It's telling me something. A story. As it plays softer, it tells me about an unaccomplished victory; about a
2) true and undying love was lost; a friend who left and never returned. It plays slowly. It questions me about the lost of sympathy that
3) this world has. I listen. I feel and wonder. As the piano continues, it plays a little faster and tells me about the nature and
4) sensitivity of the birds in the trees when they hop on by; about the mood on each rain drop that falls; about the wind that blows
5) a womans hair as she dances gracefully to a forgotten melody. I listen. The piano plays louder and begins with the sounds of triumph.
6) it tells me about each success the morning has to create a new day; about the pearl in the night sky manages to shine above those
7) diamonds and how those treasures illuminate the sky after a beautiful day. The piano gets stronger and now only tells me about passion.
8) such as the passion that is felt when a dancer becomes a slave to the body when music plays; how a strong love two people can still have
9) even after death has split them apart; it is felt when the mind and heart become one. I listen... I feel it... I play. The piano begins, it's goodbye along with a final thought. "don't be afraid to feel" is it's closing and the big finale is the most captivating yet
10) with the perfect pitch and feeling, the music ends, almost instantly... But I don't realize it until many moments later. (The End)

Source: original by aBeatlesfan1 Andrea of Twitter

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Padaria Espiritual - I



Fazendo aquela tradicional arrumação, que todos nós fazemos algum dia, quando não conseguimos encontrar mais nada, quer seja no seu escritório, ou na sua estante de livros em casa, encontrei muitos livros, livros que eu supus nunca ter lido na minha vida.

Mas ao folhear alguns, notei que vários deles tinham muitas anotações feitas com a minha letra, naquele espaço em branco do lado direito do livro.

Anotações profundas, comentários e citações de outros autores, coisas que hoje me causam estranheza, não por serem fora de propósito, mas sim pela qualidade e clareza, não me lembrava de ter escrito aquilo!

Mas, um dos livros que me chamou mais a atenção, não pelas anotações que eu escrevi, foi uma coletânea de três volumes, da coleção Rubáiyát ( escrito assim mesmo) de título:- Seleta dos Ensaios de Montaigne”, traduzido por José Maria de Toledo Malta, com prefácio de Léo Vaz, da Livraria José Olympio Editôra – Rio de Janiro – 1961.

O que me intrigava era como, esses três volumes, considerado raros, tinha vindo parar em minhas mãos.

Tinha a capa original de quando fora editado, não tinha sido enviado para a encadernação, como é comum fazer com livros antigos, para a preservação deles.

A capa ainda está bem conservada, embora um pouco amarelada pela ação do tempo.

Olhando para aquela capa, bem frágil, e forçando um pouco a memória, as coisas foram se tornando mais clara, foram surgindo flashs, que foram me levando, aos poucos, há um passado que me trazia boas recordações.

Como não ser boas, quando essas recordações te levam a alguem muito querido? Um amigo íntimo, com quem passamos momentos alegres e divertidos?

Longas conversas, sobre assuntos variados e em lugares inusitados. Um desses lugares era uma adega, no bairro típico italiano do Bixiga.

Essa adega era estratégica, por estar, alí, no Bixiga, um bairro cheio de cantinas, onde se servia massas deliciosas e não podia faltar o tradicional acompanhamento de uma bela macarronada: o vinho!

A aparência dessa adega, a primeira vista, não era lá nada convidativa.

Ela estava encravada, esse é o termo certo, que eu encontrei para procurar definir onde essa adega estava, debaixo de um prédio residencial, como não sei, o dono conseguiu colocar naquele espaço tão pequeno, enormes tonéis de madeira, uns quatros pelo menos, contendo vinho! Até que não era ruim.

O ambiente tinha o cheiro característico do acre do vinho, algumas mesinhas e alguns petíscos, mas o que meu amigo gostava de tomar lá não era o vinho, mas sim uma cachacinha, sim, numa adega o dono tinha ali, escondidinho essa cachacinha especial para clientes especiais.

Esse meu amigo, era um intelectual, como se rotulava as pessoas cultas naquela época, hoje ele seria Geek, falava Francês fluente e estava estudando Grego por conta própria.

Tinha lido de tudo, um aficionado de Honoré de Balzac , como eu, assim nossas conversas eram longas e deliciosas, entre um delicioso queijo gruyère e gouda, um vinho e um trago e outro da cachacinha especial, a conversa ia longe!

Meu amigo era um sujeito simples, e é ai onde eu quero chegar. Ele tinha um irmão, não menos intelectual que ele, tinha sido beneficiado financeiramente, tinha hábitos requintados, cachacinha? Que nada, tomava uísque Buchanans, doze anos! Cigarros Carlton ou Dunhill, como passsou a se chamar, que eram os mais tradicionais na época? Não!! Fumava cachimbo, com fumo Half and Half lógico, e tinha uma biblioteca invejável!

Numa dessas conversas, meu amigo disse que o irmão dele, assim com eu estou fazendo, estava organizando sua biblioteca e tinha alguns livros que ele iria se desfazer e perguntou se eu queria alguns, lógico que aceitei na hora.

Assim, no meio desses livros, estava essa coletânea dos “Ensaios” de Montaigne e sem exagero ou por influência da minha imaginação, ainda sinto o cheiro do fumo do cachimbo!

Saindo desse devaneio e voltando a minha arrumação, notei na última contra capa do primeiro volume, que havia uma anotação alí, á lápis, com a inscrição que dizia:- “ Padaria Espiritual”

Fiquei muito curioso. Padaria Espiritual? O que seria isso?

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Cheiro de terra molhada



Eu não queria ir, mas não sei porque, se me deixava levar. Era um misto de ansiedade, emoção e angústia.

Afinal, eu não sabia o que iria encontrar lá, poderia me decepcionar, mas também poderia desfrutar de uma alegria incomparável, pois poderia voltar no tempo, relembrar os momentos felizes que eu passei por ali. Momentos de liberdade e pura traquinices, folguedos e correrias, sem se preocupar com o tempo, pois ele demorava a passar, como era bom.

Mas, e se eu me decepcionasse? Se eu não encontrasse o que estava procurando? À medida que descia aquela rua, aumentava as batidas do meu coração, estava tudo mudado, no lugar daquelas velhas casinhas de tijolos vermelhos, surgia pédios imensos, condomínios enormes, com muros altos, vigilância, tudo isso fazia dimuir cada vez mais a minha esperança.

Pronto, era só dobrar uma esquina!

Estava lá! Eu não podia acreditar no que via, mas estava lá sim, estava um pouco mudada...o muro...o muro não era mais aquele muro baixinho, sem cercas eletrificadas.

Estava lá e resistia, espremidinha entre enormes prédios, mas eu podia ver de onde eu estava, algumas árvores, frondosas, provavelmente frutíferas. Fui chegando mais perto, e posso dizer que eu sentia aquele perfume, que me levou mais e mais, atrás, na corrente do tempo! Sim, sentia aquele cheiro de terra molhada, pois era tardezinha, uma tarde bem fresca e podia sentir aquele cheiro que me levou de volta a minha infância!

Pulava aquele muro, outrora baixinho, com agilidade de um felino, e adentrava fundo naquele terreiro, passando entre outras árvores de frutas como, manga, carambola, laranja e ia direto, para uma, bem lá no fundo: a jaboticabeira!

Me deliciava com algumas, ali, no pé mesmo, comia até não poder mais, depois colocava a camisa para dentro das calças, e ia colocando mais algumas dentro da camisa, para comer mais tarde! Era uma traquinagem deliciosa!

O dono sabia, quando estava de bom humor, não ligava, mas quando não estava...era perna pra quem te quero, pois ele corria atrás de nós, com uma espingarda de tiro de sal!

E aquele que recebia um tiro desse, quem já levou sabe, ficava dias, as vezes semanas sem sentar!

Era divertido, mas quando escapavamos do dono do terreno, não escapavamos das nossas mães. Quando chegavamos em casa com a roupa toda manchada, dos frutos da jaboticabeira, era muita peia! Mas não tinha importância, estavamos felizes e satisfeitos!

Feliz como estou agora, por recordar um pouco da minha infância, graças a insistência e resistência heróica do dono dessa casa. Sabemos que ela resistira, ainda, por mais algum tempo, mas provavelmente sucumbirá à ganância e especulação imobiliaria, debaixo da desculpa chamada progresso.

Volto para casa satisfeito, por poder ainda sentir um pouco daquele cheiro de terra molhada!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Depois daquele som


Um dia passando por uma loja de discos, sim, dessas que vendiam aqueles famosos bolachões chamados de LPs, hoje chamam de discos de vinyl (chic!), ouvi um som diferente!

Nem imaginava que esse som, que eu tinha acabado de ouvir, iria mudar toda uma geração, toda tecnologia fonográfica que havia até então!

Para quem não tivesse um ouvido, um pouco mais aguçado, talvez não percebesse a diferença entre tudo que havia no mercado em matéria de música dirigida ao público jovem e aquele som!

Era alegre, vibrante cheio de harmonia, vocal bem afinado, guitarras com afinação diferente das que eu conhecia!

A loja era pequena, bem apertadinha, entrei e fui direto ao vendedor e perguntei, o que era aquilo que eu estava ouvindo?

Sorrindo, acho que porque, provavelmente eu não fosse o único a fazer essa pergunta, satisfeito ele foi até o fundo da loja e veio com um disco compacto, (hoje se chama single), de uma banda chamada The Beatles, nunca tinha ouvido falar!

O compacto era simples, com duas músicas, uma era a que estava tocando:- “ I want to hold your hand” a outra era “ This boy “, gravado em 29 de novembro de 1963.

Imediatamente fiquei com o disco!

Fui para casa ansioso para ouvir com mais calma essa novidade, convidei alguns amigos, que gostavam de música também, e todos ficaram admirados com o que ouviam!

Sim! Realmente a vida depois daquele som não seria a mesma!