segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Padaria Espiritual - II


Descobri muitas coisas interessantes, a partir de uma simples inscrição na contra capa de um livro.

Talvez, algum tempo atrás, demoraria muito para isso acontecer, descobrir qual o significado da pesquisa sobre o que foi ou o que era, ou o que é a Padaria Espiritual.

Para minha surpresa, e creio que para muitos também, saber que a Padaria Espiritual é uma agremiação literária surgida em Fortaleza no final do século XIX que reúne escritores, pintores e músicos.

Fundada por Antonio Sales (1868 - 1940) em 30 de maio de 1892, conta com a participação de 20 "padeiros", membros fixos do grupo que se reúne no "forno", nome dado a sua sede, sob a direção de um "padeiro-mor". Na própria denominação, que associa a imagem da padaria às letras numa época marcada pelo academicismo da literatura, é possível notar o traço transgressor que dá forma às manifestações públicas e privadas realizadas pelo grupo.

Integram a Padaria o primeiro "padeiro-mor", Jovino Guedes (1859 - 1905), Tibúrcio de Freitas (s.d. - 1918), Ulisses Bezerra (1865 - 1920), Carlos Vítor, José de Moura Cavalcante (1965 - 1928), Raimundo Teófilo de Moura, Álvaro Martins (1868 - 1906), Lopes Filho (1868 - 1900), Temístocles Machado (1874 - 1921), Sabino Batista (1868 - 1899), José Maria Brígido (1870 - s.d.), Henrique Jorge (1872 - 1928), Lívio Barreto (1870 - 1895), Luís Sá (1845 - 1898), Joaquim Vitoriano (s.d. - 1894), Gastão de Castro, Adolfo Caminha (1867 - 1897), José dos Santos e João Paiva, além do próprio Antonio Sales, o "primeiro forneiro". Cada um dos membros assina os textos, publicados no periódico do grupo O Pão, com um pseudônimo.

Chama a atenção, na produção da Padaria, a heterogeneidade dos textos dos membros, marcados, na poesia, tanto pelo Simbolismo quanto pelo Parnasianismo, ambos de inspiração portuguesa, diferentemente da influência francesa dessas escolas ao sul do país. Na prosa convivem um Romantismo tardio, o Realismo e o Naturalismo, por vezes orientados para o Regionalismo.

A Padaria Espiritual, movimento pioneiro no Ceará — terra de José de Alencar — e precursor das academias de letras em terras brasileiras. Movimento modernista, ainda hoje atual, com 40 anos de antecedência à Semana de Arte de 1922 tinha até um estatuto composto de 48 artigos, “amassado e assado na "Padaria Espiritual", aos 30 de Maio de 1892.” como diziam eles.

Tanto as atividades do grupo quanto O Pão tomam uma feição ligeiramente mais séria, mas ainda calcada no espírito de pilhéria, a partir da reorientação e da publicação do Retrospecto. O grupo e alguns de seus membros tem sua produção reconhecida em outras capitais, provocando admiração e repúdio, este, naturalmente, por sua posição anárquica, que, se não chega a ser abandonada, é suavizada. Nessa atmosfera fervilhante e paralelamente ao movimento da Padaria Espiritual, acontece a fundação da Academia Cearense de Letras, em 15 de agosto de 1896, quando, mais uma vez, os intelectuais locais valorizam-se com seu movimento de vanguarda, já que esta foi a primeira academia de letras do país, surgindo mesmo antes da própria Academia Brasileira de Letras.

O Pão volta a ser publicado em janeiro de 1895 e chega ao fim no número 36, em 31 de outubro de 1896. O grupo, por sua vez, se encerra em dezembro de 1898.

Em 1992, em comemoração ao centenário da Padaria Espiritual, outro grupo de escritores, artistas plásticos, músicos e amantes da arte em geral pôs a mão na massa e O Pão tornou a circular, como o seu ilustre antepassado, distribuindo os biscoitos finos da imaginação.

Tudo isso passaria despercebido por mim e por muitos, que desconhecia esse movimento literário tão importante para todos nós brasileiros, se não fosse a simples curiosidade de pesquisar uma escrita à lápis na contra capa de um livro raro!

Source:- cearacultural.com.br

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