quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O Grupo Escolar

                                                             
Era impossível passar desapercebido uma figura tão grande, majestosa e desengonçada como aquela.
Seu caminhar era desajeitado, nos seus quase dois metros de altura, a cor de sua pele era azeitonada, cabelos lisos e grisalhos. Era o senhor Vicente, o servente, como se chamava a pessoa que prestava serviço na escola. Todas as manhãs, bem cedinho lá vinha ele com dois vasilhames em suas grandes mãos, cheio de tinta. Passava de classe em classe, carteira por carteira, enchendo os tinteiros que faziam parte delas. Era um recipiente em cima do tampo das carteiras com uma tampa corrediça para o lado, que protegia o líquido meio azulado, onde os alunos mergulhavam a ponta de suas canetas, as penas como eram chamadas, afim de escreverem em seus cadernos. As canetas tinteiros viriam um pouco depois, as famosas Parker 21 e 51.

Fazia isso metodicamente, como se fosse um ritual, e eu chegava cedo para acompanhar encantado esse ballet! Dá mesma maneira que ele vinha, saia, desaparecia em meio a multidão agitada dos alunos no pátio da escola.

Terminando de assistir o trabalho dessa interessante personagem, me dirigia ao refeitório, onde me aguardava um pãozinho bem quentinho acompanhado de um copo de leite de soja, igualmente quente. Pronto, agora era só esperar o sinal tocar, para se formar uma  fila, cada aluno tinha que esticar o braço direito e encostar no ombro do companheiro da frente. Essa fila se formava diante do número da classe que o aluno  estudava, depois era só  entoar o hino nacional. Era obrigatório!

Em seguida, cada fila se dirigia para suas classes, ordenadamente, uma por uma, classe 1...classe 2...classe 3..e assim por diante, até chegar a classe 16. Agora, todos sentados nos seus devidos lugares, aguardávamos o professor chegar, não demorava muito e ele entrava na classe e todos os alunos se levantavam e cumprimentavam o professor e só sentávamos quando ele dissesse: "Podem sentar-se."

Esse era outro momento que eu aguardava com ansiedade. Um aluno, que o professor designava, normalmente era o mais aplicado da classe, ia ao fundo da sala de aula, onde havia um armário, de madeira, muito bonito, envernizado, onde ficava guardado nosso material  escolar, cadernos, livros etc. Ele colocava um pilha de cadernos na carteira do primeiro aluno da fileira, havia cinco fileiras de oito alunos, ele distribuía essas pilhas de cadernos em cinco, conforme o número de fileiras.

Esse primeiro aluno tirava o seu caderno e passava a pilha de cadernos para o outro aluno por detrás dele, assim sucessivamente. Era um momento excitante para mim, pois gostava de ver meus cadernos impecavelmente encapados, com um papel verde escuro, que chamávamos de papel impermeável verde, o caderno de todos eram encapados assim, um por um, livros também. Tinham que estar bem asseados, senão, eramos chamados a atenção.

E assim, eu passava todas manhãs, encantado com o que via, dentro daquele prédio imponente de concreto armado, meio rosado. Havia ali dentro toda uma infraestrutura para um bom aprendizado. Refeitório espaçoso, dentistas, auditório, onde se lecionava canto orfeônico, um enorme pátio onde se praticava esporte e educação física.

Após as aulas, eu saia em disparada no caminho para casa, que ficava bem perto dali, satisfeito e alegre por passar mais uma manhã no meu Grupo Escolar!






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