Após a Revolução de 31 de março de 1964, tudo parecia que ia mudar, de fato já estava mudando. Era diferente do passado quando as Forças Armadas somente intervinham em casos especias para o restabelecimento da ordem. A impressão que tínhamos agora era que eles, os militares, vieram para ficar. Estava surgindo uma nova fenomenologia política no Brasil, que alguns cientistas políticos já criticavam, e os intelectuais satirizavam.
O primeiro presidente após o movimento de 31 de março foi Humberto Alencar Castelo Branco, em seu discurso de posse, que consta no Discursos. Brasilia, Imprensa Nacional 1964 p. 11, em parte ele diz:-" Espero, também, em me ajudando o espirito de colaboração de todos os brasileiros e o sentimento de gravidade da hora presente, possa entregar, ao iniciar-se o ano de 1966, ao meu sucessor legitimamente eleito pelo Povo, em eleições livres, uma nação coesa e ainda mais confiante em seu futuro, a que não mais assaltem os temores e os angustiosos problemas do momento atual".
Um ano e meio depois, mediante o Ato Institucional nº 2 ele extinguiu os partidos políticos existentes e estabeleceu a eleição indireta para a Presidência da Republica.
Nesse cenário, o clima de incerteza política era um prato cheio, para os críticos, jornalistas e intelectuais da época, por enquanto, pois nuvens negras e não mais cinzentas, se aproximavam e essa liberdade iria acabar.
Um intelectual da época que eu gostaria de destacar, era o Sergio Porto e seu alter ego Stanislaw Ponte Preta. O primeiro tratava de assuntos sérios, tinha uma coluna nos jornais da época, compôs o " Samba do crioulo doido " , já o segundo, seu alter ego, passava o tempo criando personagens em suas crônicas diárias de formas divertidas e digamos assim, anárquicas.
Em 1966, portanto dois anos depois do movimento de 31 de março de 1964, que ele chamava de "redentora", escreveu o livro:- "FEBEAPÁ 1 - Festival de Besteira que Assola o país ". Nesse livro Stanislaw Ponte Preta, conta as bizarrice que aconteceu no cenário político após a "redentora".
Algumas " otoridades " e alguns aproveitadores, começaram a praticar a arte do dedurismo ( segundo ele uma corruptela do dedo-durismo), incentivada pela "redentora", que era a arte de apontar com o dedo um colega, um vizinho, ou alguém com quem não simpatizasse, como corrupto ou subversivo. Dessa prática surgiram as besteiras que ele conta no livro. Destaco algumas para satisfazer a curiosidade:- ' "Quando se desenhou a perspectiva de uma seca no interior cearense, as autoridades dirigiram uma circular aos prefeitos, solicitando informações sobre a situação local depois da passagem do equinócio. Um prefeito enviou a seguinte resposta à circular: "Dr. Equinócio ainda não passou por aqui. Se chegar será recebido como amigo, com foguetes, passeata e festas" '.
Outra:- '" Foi então que estreou no Teatro Municipal de São Paulo a peça clássica Electra, tendo comparecido ao local alguns agentes do DOPS para prender Sófocles, autor da peça e acusado de subversão, mas já falecido em 406 a.C". Essa é demais:- " A Delegacia de Costumes de Porto Alegre mandava retirar das livrarias, sem dar a menor satisfação aos livreiros, todos os livros que fossem considerados pornográficos. Um dos livros apreendidos era "O amante de Lady Chatterley" e, quando o delegado soube que o autor era súdito de Sua Majestade Britânica, mandou devolver todos os exemplares, explicando aos seus homens: " Nós não temo nada que ver, tche, com a pornografia inglesa. Só com a nacional, tche! " Se quiserem saber mais, leiam o livro, recomendo. Sergio Porto morreu de infarto em 30 de setembro de 1968, aos 45 anos de idade. Não viveu para presenciar o AI-5, que foi o quinto decreto emitido pelo governo militar. Entrou em vigor em 13 de dezembro de 1968, durante o governo do então Presidente Arthur da Costa e Silva.
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